Onze peritos em áreas que confluem na análise dos problemas do acesso à água foram convidados pela Fundação Gulbenkian a estabelecer cenários para 2050. Hoje, segunda-feira, tiveram a sua primeira reunião de trabalho em Lisboa e falaram do projecto numa sessão pública.
"Nunca deixaremos de ter água, porque esta é na maioria renovável", lembrou um dos membros do Think Tank Gulbenkian Sobre a Água e o Futuro da Humanidade. Mas Peter Gleick, presidente do Pacific Institute (Califórnia) advertiu logo: "Teremos, isso sim, grandes dificuldades nas reservas de água não-renovável". E estas são sobretudo constituídas pelos aquíferos subterrâneos, de recarga muito lenta e nos quais assenta uma parte significativa do consumo humano (Portugal incluído).
Gleick é de opinião de que em muitos pontos da Terra já foi atingido o limite de exploração. Segundo ele, em relação ao recurso água raras vezes tomamos em conta problemas como a salinização dos aquíferos ou a perda dos eco-sistemas.
"Chegamos a um ponto em que aquilo que retiramos de água como recurso acaba por prejudicar-nos mais ecologicamente do que nos favorece"
O coordenador deste grupo de reflexão considera que "as crises da água resultam mais de uma governância inadequada do que da escassez". Para Luís Veiga da Cunha, que há décadas se dedica ao estudo deste recurso, "com a crise financeira varreu-se para debaixo do tapete as outras componentes que interagem com essa crise". Entre outras, as vertentes sociais e ambientais . Sobre o recurso água, admitiu que no futuro a tendência será para "um agravamento global da situação".